Artigo – Reflexão necessária: onde estão as mulheres na política?

Ex-senadora Maria do Carmo, prefeita Emília Corrêa e a deputada federal Yandra Moura

Março é o mês dedicado às mulheres, um período de celebração, mas também de reflexão sobre os desafios e conquistas femininas em diversos setores da sociedade. No campo político, infelizmente, os números ainda revelam uma realidade preocupante de sub-representação. 

Mesmo com avanços legislativos, campanhas de conscientização e o fato de as mulheres representarem 52% do eleitorado brasileiro, a presença feminina nos espaços de poder político segue aquém do esperado. Em Sergipe, os dados das últimas eleições municipais evidenciam essa realidade. Dos 75 municípios sergipanos, em 2020, foram eleitas 14 prefeitas, e em 2024, esse número caiu para 13, representando apenas 17,3% do total. Um cenário de estagnação que revela o quão difícil ainda é para as mulheres conquistarem espaços de liderança política. 

O quadro se agrava ainda mais quando olhamos para o parlamento municipal. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), dos 790 candidatos eleitos para o cargo de vereador em Sergipe, apenas 151 foram mulheres, o que representa apenas 19% do total. Além disso, em 11 municípios sergipanos, nenhuma mulher foi eleita, demonstrando a ausência completa de representação feminina em diversas câmaras municipais.

No cenário nacional, a realidade não é diferente. Segundo estudo da União Interparlamentar, que analisa a participação feminina em parlamentos de 192 países, o Brasil ocupa a 142ª posição no ranking de representatividade feminina. Estamos muito abaixo de nações que já avançaram de forma significativa nesse aspecto. Mesmo com leis de cotas que obrigam partidos a preencher um percentual mínimo de candidaturas femininas, ainda há um grande abismo entre a candidatura e a efetiva eleição. 

Preencher vagas apenas para cumprir formalidades é um “faz de conta” que, infelizmente, ficou evidente nas diversas fraudes ao sistema de cotas femininas, comprovando sua fragilidade e baixa eficiência. Por outro lado, um marco histórico merece ser destacado: a eleição de Emília Correia, a primeira mulher a assumir a Prefeitura de Aracaju em seus 170 anos de história. 

Emília quebrou barreiras, fez história e representa um exemplo inspirador para todas as mulheres. Sua trajetória política foi construída com base na ética e na luta por seus ideais, pois não provém de família de políticos tradicionais. Ela chegou ao poder de forma livre e independente, mostrando que é possível conquistar espaços com trabalho e perseverança. 

Porém, é importante lembrar: Sergipe nunca elegeu uma governadora. Esse dado é mais uma prova de que ainda há um longo caminho a ser percorrido. Esses dados apenas deixam claro o quanto precisamos avançar como sociedade. As fraudes no sistema de cotas revelam a ausência de um verdadeiro comprometimento com a inclusão feminina na política. O que falta é uma política partidária séria e comprometida, não apenas discursos vazios desprovidos de ações concretas. 

Não é preciso um grande esforço intelectual para perceber que a ausência de mulheres nos espaços de poder marca uma sociedade que ainda demanda muito para alcançar uma evolução consciente. A presença feminina nos espaços de poder representa mais do que números — é sinônimo de equilíbrio de ideias, contrapontos necessários e de um olhar diverso para a construção de políticas mais justas e humanas. 

É um passo fundamental para construirmos uma sociedade livre, plural e equilibrada. Sem esses preceitos, fica difícil falar em democracia plena. Não há democracia quando a maioria — as mulheres — não está adequadamente representada nos espaços de decisão. É preciso criar mecanismos que realmente funcionem, pois só assim caminharemos para a construção de um país mais justo e plural.

Sobre o autor

Wesley Araújo é advogado, especialista em Direito Constitucional e Direito Eleitoral, atualmente mestrando em Direitos Humanos. Além de sua destacada atuação na advocacia, é também radialista e palestrante reconhecido na área de comunicação assertiva, onde desenvolve treinamentos, palestras e cursos voltados ao aprimoramento da comunicação pessoal e profissional. Atua como comentarista jurídico e político, unindo sua sólida formação acadêmica à habilidade prática de traduzir temas complexos para uma linguagem clara, objetiva e acessível ao grande público.

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