Em entrevista ao Jornal da Fan, da rádio Fan FM, nesta quinta-feira, 8, a jornalista e pesquisadora Díjna Torres debateu sobre as temáticas da ocupação de espaços de poder pelas mulheres e o machismo.
A discussão partiu do episódio de misoginia do qual foi alvo a secretária de Estado da Fazenda, Sarah Andreozzi, que teve sua capacidade profissional questionada após anunciar uma gravidez.
“Eu fiquei muito surpresa, muito perplexa, sobretudo, diante do ano em que nós estamos vivendo, com as mulheres ocupando diversos espaços, e é importante ressaltar, eu como pesquisadora na área de gênero também, tive essa possibilidade de enveredar pela área acadêmica, que é uma área que eu gosto muito, e dentre esses estudos de gênero, a gente percebe que há uma crescente, sim, das mulheres ocuparem espaços de poder, mas é uma crescente lenta, então a gente precisa estar debatendo para que não aconteça”, explicou.
Na oportunidade, Díjna destacou o cenário verificado no Brasil e em Sergipe de composição majoritária de mulheres na população, em detrimento a uma participação pífia em espaços de poder e, especialmente, cargos de gestão.
“Quando você está no seu local de trabalho ou conversando com outras pessoas, dialogando, ou mesmo as representações políticas, dentro dos seus condomínios, das suas casas, dos seus bairros, as lideranças comunitárias, quem são essas pessoas? Onde estão essas mulheres? A secretária Sarah Tarsila falou que agora no governo Fábio Mitidieri tem mais secretárias do que nos governos anteriores, mas eu ainda acho que é insuficiente. Ainda é insuficiente, não é nem a metade. É uma parcela pequena de mulheres ocupando espaços de poder”, completou.
Em sua fala, a pesquisadora aponta avanços, mas acredita que o ritmo ainda é lento.
“Então, quando a gente vai pensar nessas possibilidades, a gente percebe também que a questão da gravidez é, sim, ainda um traço muito forte de machismo e ainda é um impedimento. E a mulher já ter filhos e ter filhos pequenos ainda é um impedimento para que ela ocupe cargos de gestão, independente do currículo dela, independente da experiência de trabalho, isso ainda é muito forte”, expressou Díjna.
Durante a entrevista, ela também falou sobre o caráter estrutural do racismo, o que dificulta o reconhecimento de ações dessa linha pelos homens e a ampliação da representatividade feminina em vários espaços.
“Por que é tão difícil para o homem reconhecer? Porque é naturalizado, o machismo é tão estrutural na nossa sociedade que até algumas mulheres são afetadas diretamente pelo machismo e acreditam que determinadas ações sobre o corpo da mulher, sobre o que se fala sobre a mulher, que o homem está agindo de maneira correta. O machismo não tem ideologia política, ele não tem classe social, o machismo ele está enraizado em todos, então o que precisa fazer é admitir: ‘Realmente eu não tinha pensado por esse lado’, ouvir as mulheres, porque nós somos as vítimas diretas do machismo, então é importante ouvir sem deboches”, finalizou.