Na manhã desta sexta-feira, 21, o Jornal da Fan entrevistou o delegado Wanderson Bastos, responsável pelas investigações do atropelamento de uma idosa de 62 anos, cometido na segunda-feira, 17, pelo vereador e presidente da Câmara Municipal de Nossa Senhora das Dores, Fábio Rosa, o Catatau, em frente ao Colégio Estadual General Calazans, próximo à Praça do Jacaré, em Nossa Senhora das Dores.
“O atropelamento, em si, não teria essa repercussão jurídica, porque eu posso atropelar uma pessoa, você pode atropelar uma pessoas, essas ocorrências fatídicas podem atingir qualquer um. Agora, o que chama a atenção e dá uma grande envergadura jurídica para essa situação é que ele foi praticado por um vereador que está, muito provavelmente, na condução de um veículo oficial e não habilitado. Aí, sim, a coisa ganha uma relevância jurídica sem precedentes”, disse o delegado para os ouvintes da Rádio Fan FM.
A equipe do Jornal da Fan teve acesso a um vídeo que mostra o momento em que o carro conduzido pelo vereador Catatau, modelo Voyage de cor branca, vem totalmente fora da direção da mão dele, entrando pela esquerda em uma rua de mão dupla e atropelando a senhora. O vídeo mostra que, por muito pouco, o vereador quase atropelou uma outra jovem que, segundos antes do atropelamento, passou pela vítima.
O delegado disse que a idosa foi levada a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde foi constatado que fraturou a tíbia, um dos ossos mais importantes da perna.

“O vereador Fábio Rosa não é habilitado. Já cometeu um crime, que é o Artigo 309 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). As evidências são muito fortes, no sentido de que esse veículo é da Câmara dos Vereadores, porque a Câmara tem três veículos locados, o que não tira deles a característica de veículo oficial. A Câmara possui um Voyage branco locado. Lamentavelmente, as imagens não possibilitam ver a placa, o que não vai causar muita dificuldade. Se não quiserem confirmar que o veículo era o da Câmara, vou pedir perícia, se for o caso peço busca e apreensão do veículo, perícia para identificar moça ou qualquer outra coisa. Ninguém vai atrapalhar o trabalho do Estado. Escutei boatos de que o vereador poderia dizer que o carro seria dele. Tenho acesso a todos os veículos que pertencem ao vereador. Ele tem seis motos, mas nenhum carro no nome dele. Se disser que o veículo não é da Câmara, alguém tem que apontar quem é o proprietário e se alguém disser que é proprietário, já vai entrar no Artigo 310, que é entregar um veículo a uma pessoa não habilitada. Que ninguém queira fazer o Estado de bobo. Se estão querendo enganar, não vão conseguir fazer isso. Ninguém está acima da lei. A lei é para todos. A situação ganha cores de gravidade quando você se depara com o presidente de um poder, não habilitado, dirigindo o carro do poder e nessas circunstâncias terríveis. Você tem desdobramentos ”, disse o delegado.
Wanderson Bastos também revelou que, no decorrer das investigações, teve acesso a áudios de diálogos dos familiares da vítima com o vereador, que foram gravados com o conhecimento de Catatau, que ele classificou como “diálogos que são, no mínimo, comprometedores”, onde Catatau diz que vai se valer de sua influência política para viabilizar o atendimento privilegiado da idosa em unidade da rede pública de Saúde, entrando pela porta dos fundos, sem ninguém ver.
“São coisas muito comprometedoras. Vamos aprofundar. Na próxima semana, vou ouvir a vítima, que saiu do hospital e está em casa. Após isso, estarei apto para fazer a oitiva do vereador”, disse o delegado.
“Como é que esse cidadão consegui atropelar a senhora? Ali, muito provavelmente estava falando no celular, olhando WhatsApp, porque a velocidade não é tão grande. Daria tempo de ver, parar, frear. Se é um pouco mais rápido, aquela senhora poderia morrer naquela circunstância”, disse o delegado, ressaltando que, até o momento, afora o crime de trânsito previsto no Artigo 309 do CTB (dirigir sem habilitação), o vereador Catatau pode responder por improbidade administrativa e, por sugerir poder facilitar a entrada e o atendimento da vítima no Hospital Regional de Propriá, Catatau pode ser enquadrado por advocacia administrativa.