Na última quarta-feira, 12, o Governo federal anunciou o encerramento do Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares (Pecim), que dividiram muitas opiniões, tanto entre a população em geral, quanto entre profissionais da área da Educação. Para discutir a questão de maneira mais ampla, o Jornal da Fan conversou com a secretária de Educação de Tomar do Geru, Iara Soares, única cidade em Sergipe que conta com uma escola cívico-militar, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Dr. Albano Franco, localizada no Povoado Cardoso, na zona rural do município.
Para ela, que é contrária ao encerramento do programa, a notícia foi impactante. “É uma tristeza e uma frustração por a gente ver um trabalho que tem dado certo na iminência de se acabar. A nossa perspectiva, agora, é encontrar parcerias para continuar esse trabalho, que trouxe bons resultados. A gente não pode ver a Educação somente pelo lado do ensino e da aprendizagem. A gente tem que ver o ser humano estudante, a criança, o adolescente que está na escola. Ele é um ser humano complexo, como todos nós somos, então temos que trabalhar outras questões. Os monitores do programa não vêm para as escolas para realizar um trabalho pedagógico. Este ponto continua sendo competência da coordenação pedagógica, quanto dos professores. O trabalho deles é modelar essas crianças e ajudar elas a se encontrarem e trabalhar competências socioemocionais, comportamento, valorização e disciplina. Num prazo curto, de um ano, a gente já pôde perceber uma mudança significativa de comportamento, o zelo pela escola”, alegou a professora.

Sobre a relação entre a equipe multidisciplinar da escola, que conta com essa interação entre os militares e os professores, que são civis, a secretária disse que, inicialmente, houve um estranhamento por parte da equipe de professores, entretanto, ela afirma que, com o tempo e diante dos resultados alcançados, as diferenças foram equalizadas.
“A realidade da escola era aluno que, a todo momento, o professor tinha que tirar de sala e mandar para a secretaria. Hoje, isso não acontece mais. Temos dois capitães que trabalham na parte de gestão educacional e temos os monitores que trabalham em todo o espaço da escola. Eles têm várias formações e trabalham dando suporte e orientação. As habilidades deles são variadas. Eles são do Exército, marinha e Aeronáutica e a ação principal deles é a condução e orientação dos alunos. Os alunos já sabem cantar o hino e se portar no momento de hasteamento da nossa bandeira. Você vê orgulho e satisfação nos olhos deles. Essa mudança de comportamento, não é aquela questão que se via de doutrinar e disciplinar no sentido de colocar dentro de uma caixinha, não. É uma orientação que eles passam no sentido das crianças e adolescentes se conhecerem e darem valor ao que deve ser dado, ao seu espaço e às pessoas que estão no seu entorno. A partir do momento em que eles se sentem valorizados, a aprendizagem acontece naturalmente”, ressaltou a secretária.
A professora Ivonete Cruz, que faz parte da diretoria do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica do Estado de Sergipe (Sintese), também participou do debate, externando uma opinião contrária à da secretária de Tomar do Geru.

“Para nós, que defendemos uma escola pública que tenha, como concepção, a formação integral dos estudantes, emancipatória, voltada para todos os saberes de todas as áreas, consideramos essa medido do Governo Lula necessária e urgente. Nós defendemos, cada vez mais, o fim da militarização. Precisamos construir uma sociedade cada vez menos militarizada, onde a disciplina e a ordem não sejam os fatores preponderantes para garantir uma sociedade ‘emoldurada’, no sentido de ter um comportamento que se espera. A gente defende a liberdade de expressão, a liberdade da arte. A escola é o espaço da liberdade, o espaço do saber, da ciência, da cultura, do conhecimento. Temos clareza, enquanto educadores e educadoras, que para que a escola se transforme nesse espaço do saber e não de transformar as pessoas através de competências, habilidades e construção de parâmetros comportamentais a partir da disciplina e da ordem, a gente quer uma escola livre, onde o saber defina a personalidade, não a ordem e a disciplina. Nessa perspectiva, avaliamos importante a medida do governo. É uma pauta histórica da educação. A escola não é o lugar da intervenção militar”, ponderou a diretora sindical.
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